quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

The Raven’s Cards: 00/XXII - The Fool

O taro é um oráculo secular reconhecidamente divinatório. A história da taromancia é assunto de polêmica e divergências entre os cartomantes e estudiosos. Muitos remetem aos antigos egípcios como primeiros usuários do oráculo das cartas. Outros atribuem o surgimento do tarô divinatório a trabalhos realizados por escolas esotéricas do século XVIII, baseados em um baralho de 78 cartas que era utilizado para entreter nobres.

É um mistério. Particularmente, posiciono-me atrás da primeira corrente, remetendo ao continente de Atlântida e seus habitantes iluminados pelo conhecimento divino.

Não entrarei em detalhes sobre a história, mas falarei sobre os Arcanos supremos desta arte.
Ao todo, 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores. Os grupos são igualmente importantes para uma leitura bem fundamentada, porém, os arcanos maiores são comumente usados para redimir dúvidas específicas, e, mesmo numa leitura completa, costumam representar a essência da resposta.  Arcanos Maiores têm nomenclatura específica, e os menores dividem-se entre os 4 naipes (copas, ouros, espadas e paus) e suas numerações de 1 até 9.

Os 22 Arcanos maiores seguem um esquema de emanações que iniciam no 0 e terminam no 22º. Assim, as 9 primeiras cartas indicam a Origem, enquanto as demais emanam desta origem. Por exemplo: o arcano I – O Mago, dá origem aos arcanos 10 – Roda da Fortuna e 19 – O Sol. Perceba que 1 é o gerador e os outros derivam dele (1+0 = 1   e  1+9= 10 = 1+0= 1).



ARCANO 00 ou 22 – O LOUCO

O Louco é uma carta de significados livres. Tanto que a própria numeração no baralho foge aos padrões. Alguns tarôs atribuem a ele valor 0, outros atribuem valor 22. É importante mencionar que os valores correspondem à numeração mística da árvore da vida cabalísticas, 10 sephirots (O Todo) e 22 caminhos, sendo o 0(zero) precedente ao 1. O 0 (zero) é tudo que existe informalmente, enquanto o 1 que inicia a árvore, consubstancia as potencialidades do ser.


[00 The Fool: Bés / Dark Magician of Chaos]


Em outras palavras, o Louco significa início e fim, um retorno ao recomeço. Muitas vezes representado pelo próprio Ouroboros alquímico, o Louco transborda inexatidões.  No baralho de Cleopatra, é representado pelo deus egípcio Bés. Bés é uma figura obscura na mitologia egípcia. Não se parece em nada com os demais deuses do panteão, e sua aparência bizarra esconde um deus inofensivo e festivo. Era considerado protetor das famílias, sobretudo das mulheres grávidas, patrono da música e do divertimento e um exímio instrumentista. Tal como o Louco em sua essência, Bés é um espírito livre que não se encaixa no mundo. 


As palavras-chave para o Arcano O Louco são:

- Irresponsabilidade, abandono, ansiedade, desligamento, erro, impulso, inocência, busca.

Trata-se de um arcano que demonstra fé cega. Está tão encantado com as novidades, tão absorto nos anseios, que esquece de tomar cuidado. O Louco não pondera, ele age conforme o impulso.  Muitas vezes, deixa-se desvirtuar por pressões internas ou externas, e as consequências disso são o desapego e a solidão. Por outro lado, o Louco segue os instintos e sente-se livre para fazer o que bem entender, ocasionando sentimento de plenitude no aspecto pessoal. Vive a vida sem preocupações. É uma carta que não possui exatamente significados positivos ou negativos, tudo dependerá do contexto em que vai aparecer.

Numa interpretação subjetiva, O Louco representa uma busca por anseios da alma que foram reprimidos. É uma oportunidade de retormar um caminho perdido, mesmo que precise abandonar os alicerces construídos.

Quando de frente com o Louco, deve-se perguntar: **
- Estou seguindo meus sonhos?
- Estou honrando minhas paixões?
- O que é mais valioso para mim... minhas crenças ou minha imagem?
- Que tipo de mensagem estou mandando para os outros?

Como carta representante do Louco, eu escolhi o Dark Magician of Chaos. Ele representa o Mago Superior, que corre livre e não obedece ordens. Ele resgata do cemitério os anseios perdidos e vê-se livre para realizá-los. Representa início (resgate dos anseios da alma) e fim (chaos).



Espero que tenha redimido algumas dúvidas. Minha intenção não é doutrinar ninguém, sou mera estudante. As comparações dos arcanos com cartas de Trading Card Game deixam as coisas mais divertidas, principalmente para quem sabe do que se trata.

Fontes:
* Estudos diversos.
** http://www.tarotteachings.com/fool-tarot-card-meaning.html

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

The Raven's Mask


A Máscara que todos usamos

Encanta-me uma banda de pop-rock japonesa chamada Aqua Timez. As músicas são criadas pelos próprios componentes, e sempre dizem respeito a assuntos cotidianos, de uma maneira poética e realista.

O conjunto expressa na melodia e nas letras situações que nos identificamos, seja por sofrermos bullying, seja por sentir-mo-nos sozinhos, seja por um amor não correspondido. Como toda banda de respeito no Japão, Aqua Timez interpretou a trilha sonora de séries (doramas), animações e até filmes, por analogia e talento, ganhando o prestígio de todos os fãs. 
O último lançamento da banda no mundo dos animes foi o encerramento número 30 da famosa série Bleach, denominado "MASK"(Máscara).  Diga-se de passagem, uma obra-prima dos estúdios Pierrot e uma das melhores investidas dos músicos, sobretudo para quem acompanha a série de TV e a participação memorável que a banda teve em outras ocasiões.

Vamos dar uma olhada no vídeo e na letra. Quem conhece a série conseguirá compreender um pouco melhor a mensagem das cenas X palavras, mas a compreensão está ao alcance de todos.

[Assistam em HD]

"Há algum coração que não tenha cicatrizes? Eu não soube responder, pois cada um vive somente a sua vida." - Perfeito. Esta passagem demonstra o quão humildes deveríamos ser quando postos frente a uma pergunta para a qual não temos resposta. A alma do Ichigo (rapaz protagonista) desprende-se de seu corpo, quando a chuva começa a cair. Na história da série, a chuva repesenta medos e angústias. No momento em que perde sua alma e tenta protegê-la com um "guarda-chuva", a casca vazia que restou de pé usa uma máscara. Tenta contatar alguém pelo telefone, que representa tudo aquilo que ele costumava ser, antes de perder sua alma.

Os amigos de Ichigo são mostrados nebulosos, em um mundo cinza e chuvoso, porque desejam ajudar seu amigo, e não sabem o que fazer. 

Quando Rukia (garota) aparece no céu azul, a máscara muda de feição, surpreende-se. Ao mesmo tempo, fica entristecido ao perceber que não pode alcançá-la. 

"Espero que algum dia nossos caminhos se cruzem novamente" - Este é o incentivo que o rapaz precisava para abandonar a máscara e voltar a ser ele mesmo.

"Quero que viva sem nuvens, por favor, não odeie a chuva. Quero que viva sem mentiras, senão acabará ficando sozinho." - O trecho indica claramente que a máscara é apenas um artifício para escapar da chuva. Tal qual a câmara do ego, as máscaras que usamos escondem nosso verdadeiro "eu", porque no fundo, odiamos a enxurrada de nossos receios. Somente sendo nós mesmos poderemos nos unir a alguém. Porque um dia as máscaras caem, e daí advêm as decepções. Se mentirmos para quem gostamos, inevitavelmente, acabaremos decepcionando esta pessoa. É impossível estarmos com alguém, se aquele indivíduo que está lá não é o verdadeiro Eu, pois então, não sou Eu de fato que estou me apresentando àquela pessoa.

O protagonista estava vivendo com uma máscara. Evitava tocar no assunto que doía, dizia que estava tudo bem, não demonstrava a tristeza para os outros, mostrava-se frio quanto ao ocorrido, e sorria para todos. Mas longe de todos, até sua máscara era triste.

Quando a luz invadiu o capítulo e deu lugar ao céu radiante, a chuva parou. A máscara foi destruída, restando apenas a insígnia que representa o "voltar a ser eu mesmo". E quando a imagem do arco-íris chega tomando o lugar do guarda-chuva, Ichigo suspira aliviado. Com a possibilidade de reencontrar a pessoa que mudou sua vida e ser sincero com ela, ele ganha forças. Não precisará voltar a usar máscaras.

"O amor está se escondendo em seu interior, esperando pousar em outro lugar.(...) Algum dia, algum dia, espero que possa te alcançar." - Máscaras escondem quem somos e o que sentimos. Embora sejam necessárias (sim, nós sabemos que são necessárias), quando estão a prejudicar alguém, outrem ou nós mesmos, devemos repensar a respeito de usá-las. Quando formos corajosos o suficiente para vivermos sem máscaras na frente de alguém, estaremos prontos para alcançar a tão esperada plenitude.
Como a famosa frase de Saint-Exupéry, "só se vê bem com o coração". As pessoas podem nos enganar de má-fé, vestirem máscaras para nos encantar e em determinado momento, revelarem-se tudo aquilo que jamais imaginamos que seriam. Mas o coração não se engana.  Podemos estar cegos pela emoção, mas a intuição que vem de dentro não se engana.
Às vezes, as máscaras são um meio de defesa, ajudam a pessoa a superar uma fase difícil. Outras vezes, são um artifício para não se sentirem sozinhas.

Uma coisa podemos concluir: qualquer que seja a função das máscaras em nossas vidas, a face mais bela é a nossa, como seres únicos que somos.


Em outros momentos, postarei mais Aqua Timez. Vale a pena.

domingo, 22 de janeiro de 2012

The Raven's Chamber

Sejam bem-vindos, caríssimos!

Este é um domo destinado à interação e introspecção, as duas faces complementares de nossa condição humana. 

Após uma breve introdução, performada pelo sombrio poema de Edgar Allan Poe, meu primeiro post será exatamente sobre a perspectiva do "Corvo", uma metáfora suntuosa sobre a natureza obscura e esquiva do ser humano.

Sintam-se convidados a refletir comigo e compartilhar suas próprias acepções.

O REFÚGIO DO EGO

Quantas vezes vimos o sofrimento? Quantas vezes vivemos angústias e desgostos que nos abalaram tal, a fazer-nos cair em desespero? E quanto sofrimento ainda teremos que ver e sentir, antes de apartar-nos por entre hostes celestiais? E depois?

Maestralmente, o poeta contemplou-nos com uma apologia da alma e seus anseios. Muito mais que isso, ele apresentou-nos a própria existência, como se quisesse fazer-nos despertar de um torpor induzido pelos nossos medos e paixões.

O protagonista, triste e desiludido com a morte de sua amada Lenore, em uma noite de Dezembro, tenta apaziguar a dor com a leitura de antigas escrituras. De repente, recebe um visitante inesperado em seus umbrais. O Corvo, sem cerimônia, pousa sobre o busto de Athena, e profetiza friamente a morte do anfitrião.

Ora, o protagonista é a própria imagem do Ego, lutando contra os sentimentos de agonia trazidos pela perda de um ente querido. É um momento em que a razão perde para a emoção, e a defesa é a negação. O ego nega o fim do vínculo, enquanto a realidade toca cruelmente aos umbrais. Os umbrais, a câmara, representam a obscuridade consciente em que o ego encontra refúgio. Longe do mundo exterior, a câmara é uma saída para evitar o enfrentamento de uma existência sem outrem. Enclausurados num mundo romântico, pretendemos agir com naturalidade, dar continuidade à rotina e aos planos que fizemos enquanto partes de uma relação com outra pessoa. Tão bela, tão pura, tão idealizada.

Então, surge o Corvo para atormentar. O visitante do submundo significa a realidade que evitamos enfrentar. Ele é o pesadelo de quem sofre pelo luto. O Corvo vem, impassível, instigando nosso ego com palavras duras, porém verdadeiras. E somos obrigados a despertar.

A sombra do Corvo esparramada pelo chão liberta a alma do indivíduo. A mensagem que o Corvo traz, como um agente ancestral, é a Memória e o Pensamento (Muninn e Huginn - próximos posts). A Memória é um reflexo do passado, que faz parte do presente. O Pensamento é nossa capacidade de  superar os obstáculos e viver no contexto real. Apesar de ser um embaixador da morte, o Corvo dá fim a uma fase, e permite o início de outra.

 
A reflexão não é sobre a maneira como cada um enfrenta o luto, ou como cada um lida com as situações difíceis. Nem mesmo sobre os limites de idealização de uma pessoa querida, e sobre a vontade de dar continuidade aos planos que fizeram juntos.
A questão emerge da capacidade do ser humano em continuar sua jornada, admitindo que aquela criatura amada não mais o acompanha. Este ponto serve tanto para separações voluntárias como separações compulsórias, o sofrimento sempre será grande para uma das partes (ou todas elas).

Constantemente nos refugiamos de situações que nos desagradam em um retiro interno. Esquecemo-nos de nós mesmos e de nossa vida, pois estamos ocupados demais revivendo o passado, ou vivendo POR alguém que não está mais ao nosso lado. Apenas quando a realidade vem ao nosso encontro, inexorável, é que nos damos conta do tempo que perdemos e das oportunidades que deixamos passar. 
Todos temos momentos, fases pelas quais precisamos passar para crescer e agregar experiência. Porém, o sofrimento cultivado só perpetua os momentos ruins. Às vezes bons momentos passam por nós, mas não os percebemos porque a carga do receio é maior. As Memórias existem e merecem ser guardadas com carinho e prudência. Porém, os Pensamentos devem ser fortes o suficiente para erguer o nosso ego e transportar-nos pelas veredas da vida.

Se algo lhe faz sorrir, entregue-se. Se algo lhe dá prazer, entregue-se. Se alguém lhe dá carinho, valorize. Se a beleza cruzar seu caminho, deleite-se. Por aquele momento, você estará sob a luz radiante dos astros, livre dos umbrais opressores.

Os Corvos sempre irão triunfar. Só não vive quem está morto por dentro.

sábado, 21 de janeiro de 2012

The Raven Introduction




    The Raven (Edgar Allan Poe, 1845)*

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of someone gently rapping, rapping at my chamber door.
" 'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door;

 Only this, and nothing more."



    Ah, distinctly I remember, it was in the bleak December,
    And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
    Eagerly I wished the morrow; vainly I had sought to borrow
    From my books surcease of sorrow, sorrow for the lost Lenore,.
    For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore,

    Nameless here forevermore.

    And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
    Thrilled me---filled me with fantastic terrors never felt before;
    So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating,
    " 'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door,
    Some late visitor entreating entrance at my chamber door.

    This it is, and nothing more."

    Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
    "Sir," said I, "or madam, truly your forgiveness I implore;
    But the fact is, I was napping, and so gently you came rapping,
    And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
    That I scarce was sure I heard you." Here I opened wide the door.
           Darkness there, and nothing more.



Deep into the darkness peering, long I stood there, wondering, fearing
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word,
Lenore?, This I whispered, and an echo murmured back the word,

    "Lenore!" Merely this, and nothing more.

      Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
      Soon again I heard a tapping, something louder than before,
      "Surely," said I, "surely, that is something at my window lattice.
      Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore.
      Let my heart be still a moment, and this mystery explore.

      " 'Tis the wind, and nothing more."



      Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
      In there stepped a stately raven, of the saintly days of yore.
      Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
      But with mien of lord or lady, perched above my chamber door.
      Perched upon a bust of Pallas, just above my chamber door,

      Perched, and sat, and nothing more.


        Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
        By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
        "Though thy crest be shorn and shaven thou," I said, "art sure no craven,
        Ghastly, grim, and ancient raven, wandering from the nightly shore.
        Tell me what the lordly name is on the Night's Plutonian shore."

        Quoth the raven, "Nevermore."

        Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
        Though its answer little meaning, little relevancy bore;
        For we cannot help agreeing that no living human being
        Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber door,
        Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,

        With such name as "Nevermore."



But the raven, sitting lonely on that placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered; not a feather then he fluttered;
Till I scarcely more than muttered,"Other friends have flown before;
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before."

Then the bird said,"Nevermore."

Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
"Doubtless," said I, "what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master, whom unmerciful disaster
Followed fast and followed faster, till his songs one burden bore,
Till the dirges of his hope that melancholy burden bore

Of "Never-nevermore."

But the raven still beguiling all my fancy into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;,
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore,
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore

Meant in croaking, "Nevermore."

Thus I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl, whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamplight gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamplight gloating o'er

She shall press, ah, nevermore!

    Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
    Swung by seraphim whose footfalls tinkled on the tufted floor.
    "Wretch," I cried, "thy God hath lent thee -- by these angels he hath
    Sent thee respite---respite and nepenthe from thy memories of Lenore!
    Quaff, O quaff this kind nepenthe, and forget this lost Lenore!"

    Quoth the raven, "Nevermore!"

    "Prophet!" said I, "thing of evil!--prophet still, if bird or devil!
    Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
    Desolate, yet all undaunted, on this desert land enchanted--
    On this home by horror haunted--tell me truly, I implore:
    Is there--is there balm in Gilead?--tell me--tell me I implore!"

    Quoth the raven, "Nevermore."

    "Prophet!" said I, "thing of evil--prophet still, if bird or devil!
    By that heaven that bends above us--by that God we both adore--
    Tell this soul with sorrow laden, if, within the distant Aidenn,
    It shall clasp a sainted maiden, whom the angels name Lenore---
    Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels name Lenore?

    Quoth the raven, "Nevermore."

    "Be that word our sign of parting, bird or fiend!" I shrieked, upstarting--
    "Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
    Leave no black plume as a token of that lie thy soul spoken!
    Leave my loneliness unbroken! -- quit the bust above my door!
    Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!"

    Quoth the raven, "Nevermore."

    And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
    On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
    And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
    And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
    And my soul from out that shadow that lies floating on the floor

    Shall be lifted...Nevermore!


    *Tradução de Fernando Pessoa emhttp://www.insite.com.br/art/pessoa/coligidas/trad/921.php